sexta-feira, 24 de junho de 2011

A História Das Crianças Portuguesas Vindas Para O Brasil









O drama das crianças à bordo das embarcações portuguesas se agravava ainda mais durante os naufrágios, que não eram poucos. Segundo Ramos, entre 1497 e 1653, 20% dos navios partidos de Lisboa naufragaram na carreira da Índia. Os motivos eram desde a imperícia dos pilotos, o excesso de carga, as adversidades do tempo, até mesmo pelo desgaste natural das embarcações.
As embarcações possuíam poucos botes salva-vidas, numa nau que levava cerca de 800 passageiros, existiam apenas duas pequenas embarcações que serviam como alternativa para os naufrágios. A maior era o Batel, que possuía capacidade para 70 pessoas, e a outra, a esquife, tinha capacidade para cerca de 19 pessoas. Assim, segundo o autor, em caso de acidentes no mar, apenas 11% dos passageiros se salvavam.
O drama dos passageiros começava já na eminência de afundamento destas embarcações. O que já era difícil para os adultos era ainda pior para as crianças, por serem pequenos e inexperientes, a sua situação de fragilidade ficava ainda mais grave frente à adversidade do acidente. Assim, diante possibilidade de morte, dada pelos poucos botes salva vidas existentes na embarcação, instaurava-se uma situação de pânico e desespero entre os passageiros. Uma confusão generalizada, onde na tentativa de salvarem suas vidas, os adultos acabavam esquecendo seus filhos dentro dessas embarcações à afundar. Como exemplo o autor cita o naufrágio da nau São Tomé, onde “em meio a confusão D. Joana de Mendonça [...] foi posta à embarcar no batel sem que desse falta pela filha”(RAMOS, p.41).
A prioridade de embarque no batel e no esquife, segundo as tradições da época, era prioritariamente dos membros da nobreza, dos oficiais da embarcação e daqueles que pudessem ser útil em terra após um possível salvamento, e assim, “as crianças eram entregues à própria sorte”. (RAMOS, p.43). “A escolha era feita pelo capitão [...] que quase nunca afundava com o navio” (RAMOS, p.42).
Em 1559 no naufrágio da nau Santa Maria da Barca só fizeram embarcar os fidalgos e as figuras de destaques, deixando para traz as mulheres e as crianças. Exemplo de exceção a esta regra foi o naufrágio da nau São Paulo, onde segundo Ramos (2002), o capitão defendeu o embarque das mulheres e crianças com a espada em punho na entrada do barco, garantindo assim que todos embarcassem.
Segundo o autor, durante o naufrágio da nau Santiago, salvaram-se cinquenta e sete pessoas no batel e nenhuma criança, e na esquife, apenas uma. Este “era filho de uma pessoa importante, que se sacrificou no seu lugar, porém não chegou em terra firme.”(RAMOS, p.43).
Entrar nos botes salva vidas nem sempre era garantia de salvamento, pois ao menor perigo de afundamento desses, os primeiros a serem lançados ao mar eram as crianças, a fim de aliviar o peso do bote e evitar que este virasse. No desastre da nau Santiago dezessete foram jogadas, sem que houvesse intervenção de nenhum adulto, nem mesmo de religiosos que estavam à bordo, pois, por possuírem prioridade, eles preferiam o silêncio para não serem jogados ao mar.
Quando o capitão fazia embarcar as crianças nos bateis e esquifes, consideravam como crianças apenas as “órfãs do rei”, excluindo todas as outras categorias de crianças que estavam à bordo.
Já dentro dos bateis e esquifes, estes teriam que se afastar logo na nau que estava afundando, para não serem sugados por ela para o fundo do mar. Assim, eles se afastavam rapidamente e observavam o horror no naufrágio. Segundo Ramos, em 1554 no acidente da nau São Bento, houve relatos de que quem estava no batel e na esquife viam as pessoas nadando e tentando se agarrar aos pedaços do navio e nas caixas, sendo esmagados pelos destroços e afogados pela fúria do mar.
Em meio à confusão do naufrágio, algumas crianças conseguiam nadar em direção dos “barcos salva-vidas”, onde quase sempre eram impedidas de subir a bordo, e as acompanhavam a nado até que suas forças sucumbissem e elas se afogassem aos olhos de todos. O embarque nestes botes não era garantia de sobrevivência, pois quando se salvavam, em terra firme começavam outro martírio, marcado pela fome e pelo medo.

RAMOS, F.P. A História Trágico Marítima das Crianças nas embarcações portuguesas no século XVI In: DEL PRIORE, M. História das Crianças no Brasil. São Paulo: Contexto, 2000. P. 141-150.



Texto feito por:Jullyana =)

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